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Na Índia jovens deixam famílias para serem monges e viverem de esmolas

Centenas de jovens na Índia, membros de comunidades que seguem o jainismo, começaram a “renunciar ao mundo material” para virarem monges que caminham descalços, comem apenas o que recebem de esmola, não tomam banho nem usam tecnologia moderna. A repórter de religião da BBC News, Priyanka Pathak, foi investigar o porquê.

“Eu nunca vou conseguir abraçar minha filha de novo”, diz Indravadan Singhi. Ele desvia o olhar, sem querer revelar suas emoções. “Nunca vou poder olhá-la nos olhos de novo.” Resignado, ele observa seus filhos e outros familiares decorando a sala com enfeites dourados e cor-de-rosa para celebrar a passagem da sua filha “do mundo” para a “vida monástica”.

Nos dias que antecederam a cerimônia, sua família veio do interior para passar com Dhruvi seus últimos dias fazendo coisas que ela gosta – jogando críquete no parque, ouvindo música e comendo em seus restaurantes favoritos. Depois, ela nunca mais poderá fazer esse tipo de coisa.

Enquanto religiosa, a jovem de 20 anos nunca mais poderá chamar os progenitores de mãe e pais. Ela vai cortar o cabelo, caminhar apenas descalça e comer apenas o que receber de esmola. Nunca mais andará de carro, nem tomará banho, nem dormirá sob um ventilador de teto e nunca mais usará um celular.

A família dela pertence à uma antiga comunidade jainista, minoria religiosa de cerca de 4,5 milhões de fiéis. Esses devotos seguem os princípios de sua religião sob a orientação espiritual de monges. Essas normas incluem orientações detalhadas sobre a vida diária, especialmente o que comer, o que não comer e quando comer.

Nos últimos cinco anos, Indravadan Singhi e sua esposa viram sua única filha – que antes amava jeans rasgados e sonhava em cantar em um reality show – se tornar cada vez mais religiosa e retraída. Quando passar pelo ritual jainista de iniciação, chamado de deeksha, a jovem Dhruvi está se afastando do modo de vida que conheceu até agora. E ela não está sozinha. Centenas de jovens jainistas estão seguindo o mesmo caminho, com seus números aumentando a cada ano – principalmente o número de mulheres.

“Até alguns anos atrás costumava haver apenas entre 10 e 15 rituais de iniciação por anos”, diz o professor Bipin Doshi, que ensina filosofia do jainismo na Universidade de Mumbai.

No último ano, esse número subiu para 250 e o filósofo acredita que deve subir para 400 em 2019. Líderes das comunidades atribuem o aumento a três coisas: o crescimento de pressões do mundo sobre os jovens, o fato de gurus estarem adotando novas tecnologias para tornar mais fácil para as pessoas comunicarem ideias religiosas e, finalmente, retiros com um superestrutura que permite aos jovens experimentarem a vida monástica antes de escolher se comprometer.

Pressões da vida moderna

“Você vê tudo ao mesmo momento: o que está acontecendo em Nova York, o que está acontecendo na Europa. Antes, nossa competição era restrita às ruas por onde andamos. Hoje, a competição é com o mundo todo”, diz ele. Ele afirma que o chamado “Fear of Missing Out” (Fomo, ou medo de ficar de fora) está levando mais jovens a tentar escapar de tudo.

“O entendimento é que, uma faz que você passa pela deeksha e renuncia ao mundo, o seu nível de espiritualidade e status social e religioso são tão grandes que até os homens mais ricos se curvam a você”, afirma ele. Pooja Binakhiya, fisioterapeuta que participou do deeksha no mês passado, diz o foco de sua vida mudou completamente após se tornar religiosa. Se antes seus dias eram cheios de preocupações, como família, amigos, beleza e carreira, hoje ela diz que não precisa mais se preocupar sobre como os amigos a verão.

“Aqui nós só pensamos em alma, alma e alma”, diz ela. Conteúdo exclusivo da BBC Brasil.

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